Ritmo mais forte de redução da mortalidade
infantil depende de políticas públicas mais abrangentes
Uma nova estratégia de políticas públicas como foco na melhoria das
variáveis socioneconômicas - educação, renda e saneamento - pode ajudar de
maneira mais eficaz na redução da mortalidade infantil.
A constatação é de um estudo desenvolvido pela mestre em economia pela
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e
pesquisadora do Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP (Nereus), Ana Maria
Bonomi Barufi. O estudo foi realizado sob a orientação do professor Eduardo
Amaral Haddad (FEA-USP) e co-orientação do Professor Antonio Paez (McMaster
University, Canadá).
Para Ana Maria, as atuais políticas que investem em infraestrutura de saúde
ajudaram a reduzir os índices de mortalidade de crianças nas últimas décadas.
Contudo, seus efeitos tendem a ser menos significativos agora. "Um
investimento na promoção de melhores condições socioeconômicas reduziria com
mais força os indicadores, além de possuir outros efeitos positivos, tais como
o aumento da qualidade de vida pelos maiores níveis de educação e renda",
argumenta a economista.
Segundo ela, investimentos públicos mais abrangentes, visando melhorar os
indicadores sociais, possuem um alcance muito mais amplo e diversos impactos
positivos na melhora da qualidade de vida das populações em questão.
"Políticas mais abrangentes constituem a forma mais rápida para a redução
dos indicadores de mortalidade e pobreza e para o aumento da qualidade de vida
e de índices de desenvolvimento econômico", constata.
Para a Ana, a mortalidade infantil pode ser considerada como uma medida de
desenvolvimento, já que se relaciona com a possibilidade de as pessoas terem
maior liberdade de escolha na vida, assim como propõem o economista e vencedor
do Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen.
O estudo comparou dados dos Censos de 1980, 1991 e 2000 do IBGE, utilizando
também informações do DataSUS (Ministério da Saúde) e variáveis compiladas pelo
Ipeadata.
Apesar das fortes reduções observadas nas últimas décadas, o estudo
verificou que a mortalidade infantil continua sendo um problema crônico de
certas regiões do País. A pesquisa comprovou a intensa desigualdade regional:
as regiões Norte e Nordeste apresentam índices crônicos de mortalidade de
crianças e as regiões Sul e Sudeste têm baixos índices.
De acordo com Ana, políticas públicas que busquem melhorar o acesso das
famílias aos serviços públicos de saneamento e educação, visando reduzir a
pobreza e a desigualdade, poderão ser mais eficazes no combate desse problema.
"Atualmente, é muito difícil reduzir efetivamente a mortalidade
infantil de uma região sem investimento em áreas sociais básicas, que fomentem
o desenvolvimento social e econômico da região", conclui.
Variáveis e Metodologia
A proximidade de um município com outro que possua infraestrutura básica, como
hospitais, por exemplo, influencia nos índices observados de mortalidade
infantil. "Notamos que algumas cidades são desprovidas de aparelhos de saúde
básicos e possuem, ao mesmo tempo, baixos índices de mortalidade em crianças. Isso
acontece devido à proximidade com outros municípios, que possuem essa
assistência médica", diz. "Em estudos regionais, como este, é
necessário analisar as áreas vizinhas e suas influências positivas e negativas,
considerar o espaço de maneira explícita".
Além da infraestrutura de saúde, a pesquisa de
Ana Barufi também considerou indicadores econômicos, com saneamento, analfabetismo feminino, renda, desigualdade e urbanização, para
traçar os panoramas da mortalidade infantil no Brasil.
A pesquisa analisou Áreas Mínimas Comparáveis
(AMCs), ao invés de municípios, o que assegura que se analise a mesma área,
desconsiderando as oscilações de tamanho que um município pode ter tido ao
longo dos anos. O método utilizado foi o do filtro espacial, que permitiu
considerar no modelo de maneira explícita a dependência espacial encontrada.
Fonte: http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/0/politicas-atuais-podem-frear-reducao-da-mortalidade-infantil-208672-1.asp
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