quinta-feira, 18 de junho de 2015

Na condição de poeta

Na condição de poeta/cordelista, faço o meu protesto, apenas pra realçar que o artista produz arte e não lixo.
Literatura de Cordel
Título: O Meu Protesto
Autor: Agostinho Francisco dos Santos



Eu procurei na cachola
Para tentar entender
O poder que o poder tem
Queria compreender
Mas como não encontrei
Porém não me contentei
Nem vou ficar sem saber

O poder é responsável
E sabe bem dividir
Passa por cima de tudo
Para poder perseguir
Mantendo-se no poder
Em tudo quer se meter
Depois do povo vai rir

Mas ‘tá’ difícil dizer
Porque não sei explicar
E para quem não tem ética
Talvez não vai precisar
Vive só de enrolação
Tem mágoa no coração
Também nunca vai mudar

E por causa do poder
Rachou nosso movimento
Separaram os artistas
Neste presente momento
A cultura ‘tá’ partida
Abriu a grande ferida
Ficando no isolamento

Foi assim que aconteceu
Na cultura de Caicó
O racha’ tava’ previsto
Por causa de um ‘brocoió’
Querendo se promover
Achou que era seu dever
Nos artistas dá um nó

Quem não sabe fazer arte
Devia ser consciente
Deixando para os artistas
Seria mais coerente
Sem qualquer politicagem
Bem fora desta engrenagem
Com visão independente

Nossa casa de cultura
Virou casa sem artista
Tomada pelo poder
Não quero ser pessimista
Como é que funciona?
Pegando apenas carona
Me diga, faça uma lista

No chão que era sagrado
Agora é politiqueiro
Vejo cabo eleitoral
Fazendo só por dinheiro
A arte ficou distante
Isto é horripilante
Vou falar o tempo inteiro

Veja só o que fizeram
Dizendo que é pra mudar
As telas que lá estavam
Logo mandaram tirar
Pra fazer uma limpeza
Mudar a sua beleza
Assim quis justificar

Material reciclável
Não fizeram a diferença
Este foi parar no lixo
Veja quanta indiferença
Toda a arte do ‘Magão’
É feita com papelão
Foi cruel esta sentença

O material dos cenários
Também no mesmo destino
Tudo era aproveitável
Do maior ao pequenino
Dinheiro jogado fora
Foi embora sem demora
Pelo querer do ‘malino’

A pintura do quintal
Perfeita obra de arte
Botaram água de cal
Eu quase tive um infarte
Desrespeitaram ‘Custódio’
Tentando tirar do pódio
Como se fosse um descarte

Na limpeza que fizeram
Tudo foi pro beleleu
Jogaram vasos de barro
Na rua deixaram ao léu
Até parte do arquivo
Pro lixo definitivo
Botaram no fogaréu

Pra quem sabe o que é Cultura
Qualquer peça vale ouro
Um jarro mesmo quebrado
Pro artista é um tesouro
Inda mais se for antigo
Já pode deixar comigo
Até o ano vindouro

A arte não envelhece
Faço assim minha oratória
Gravada no pensamento
Toda sua trajetória
A sua conservação
Nos causa aproximação
Ela conta sua história

Mas outras coisas virão
Faz parte de quem não sabe
Articular, fazer arte
Pois na cabeça não cabe
Peço que tenha cuidado
E se não for bem treinado
Provavelmente desabe

Quero saber, quem me diz?
Se isso é fazer cultura
Dividir e subtrair
E promover a ruptura
Por favor alguém me diga
Porém deixe de fadiga
Qual é a nova postura

‘Inda’ fico encabulado
Olhar poucos apoiar
Tamanha desfaçatez

Vendo tudo desabar
Aplaudir, ficar de pé
Andando de marcha ré
Sem saber se comportar

É missão de cada artista  
A cultura defender
Lutar junto pela arte
Com muito amor e prazer
Defender o nosso espaço
Andar no mesmo compasso
Trabalhando pra valer

Sem fazer politicagem
A arte é coisa divina
Muito bela e popular
Com toda a sua doutrina
Expressão de um ideal
Para o artista é vital
Dos seus olhos é a retina

Não quero atacar ninguém
Faço aqui meu manifesto
Sou artista popular
Estando errado eu contesto
Sou defensor da Cultura
Não quero fazer sisura
Porém faço meu protesto

Agostinho Francisco dos Santos
Poeta/Cordelista
Caicó(RN), 10 de junho de 2015

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