Tenta
explicar o conceito de cultura, ou ainda os seus múltiplos conceitos renderia
uma tese, mas considerando que a maioria das pessoas já tem noção ou
compreensão do que essa palavra designa não vamos seguir essa trilha. Quanto a
lixo, se visitarmos os dicionários encontraremos definições relevantes. Por
exemplo: lixo é tudo aquilo que perdeu o valor e pode ser jogado fora. E seu
uso, no sentido figurado, pode referir-se a escória, ralé.
A
seleção natural forçou o homem a pensar e lhe deu poder para não mais precisar
competir com outras espécies. Mas, o seu instinto de competitividade impera na
espécie humana e no seu habitante, a sociedade.
A
sociedade capitalista oportuniza ao homem a buscar de seus anseios. A mais
humilde das pessoas, quando consegue comprar sua moradia, seu meio de
transporte, sente orgulho de seu trabalho e esforço. Dessa forma, o homem
sente-se motivado.
Durante
11 anos com recursos próprios e do ponto de Cultura da Associação União do
Sobrado Pe. Brito Guerra, o Sobrado constitui-se Casa de Cultura Popular. Artistas
da música, dança, teatro, literatura, pintura, escultura, contação de história,
artesanato, culinária encheu o sobrado e sobrou arte no sobrado.
Mais
toda essa história reconhecida por todos que passaram pela casa, de todos os
recantos do pais, reconhecida por diversas academias, noticiada na imprensa local,
estadual e Norte e Nordeste, nos primeiros meses do Governo de Robinson Faria foi
tachada de lixo. Os agentes de cultura apagaram a memória de uma trajetória de
mais de uma década sem nem consultar os seus produtores. Foi possível ver no
lixo a produção das diversas oficinas realizadas na casa, peças de cerâmicas de
D. Raimunda de Chico Faísca, a revista preá do acervo da biblioteca (a revista
preá tem feito um registro da produção cultural do RN), para o lixão foram painéis, figurinos, materiais selecionados passiveis de reciclagem, brinquedos
populares, artistas foram convidados a tirar sua produção considerada lixo para
Casa Barbie.
O
pensar e o agir do novo Governo através dos gestores daquele espaço, em
detrimento dos valores éticos e morais, fere toda comunidade artística de Caicó
na sua essência e distorcem o sentido real da existência da produção cultural.
A
casa de Cultura de Caicó transformou-se na casa da Barbie, a escalada sem esforço,
a lei do mais fácil, onde não cabe mais a produção cultural, para não tira a
cadeira do lugar, onde o chão não pode suja de tinta e de cola, onde as paredes
não podem mais ter uma pintura que não seja agradável a estética da Barbie,
levou os artistas a uma reflexão e definição de novos caminhos.
Os
artistas em reunião ontem no Círculo Operário entenderam que são maiores do que
o espaço da Casa de Cultura, que espaços podem ser construídos e que a
sociedade de Caicó poderá continuar acompanhando a nossa produção em um novo
espaço.
Que
o governo fique livre para manter a casa da Barbie, com seus candelabros e todas
porcelanas no lugar à espera do chá do descaso, com suas bonecas vestidas com
modelos combinados com a temática e a ocasião, uniformização da cultura. Seu papel será de produzir em
série e larga escala bens culturais, seguindo fórmulas que atendam ao “gosto
médio” da população. O trivial, o que agrada a massa, cabe propagar esses
produtos, como os hits do verão (“Lepo Lepo” e afins) ou a boneca Barbie, que em
pouco tempo serão substituídos por outros sucessos e esquecidos pela maioria
das pessoas.
Assim,
chamo atenção para uma questão em torno de uma expressão comumente utilizada:
lixo cultural. O que vem a ser isso? Voltando ao dicionário, o que dizem sobre
a palavra, pode-se falar em produtos de baixa qualidade artística, consumidos ou
apreciados pelas camadas populares – e aí pode estar em jogo uma perspectiva elitista
perigosa.
Longe de
me, acredita em lixo cultural, muito menos em alta ou baixa culturas. Não quero
aqui cometer o mesmo erro da casa da Barbie, tachar como menor uma cultura
massiva é ignorar a riqueza e a diversidade das subjetividades que podem surgir
a partir da experiência estética que cada um extrai dos produtos de massa que
consome.
“Não que
tudo que seja produzido culturalmente seja válido, longe disso. Mas geralmente
quem costuma fazer essa distinção, o faz sob uma ótica extremamente
reducionista, por achar que tudo que vem da cultura de massa é alienado,
superficial e capaz de oferecer apenas uma experiência estética bastante
empobrecida, ou por achar que realmente existe uma alta cultura, que se
pressupõe eterna, permanente, como se os cânones fossem extremamente rígidos e
nunca maleáveis pelo espírito de cada época”, afirma o Doutor em Comunicação e
Cultura pela UFRJ e professor de Comunicação Social da Ufes, Erly Vieira Jr.
O
problema é haver preconceito contra aquilo que não se conhece, pelo fato de
alguém ter dito que não é bom, que não serve mais, que esteticamente não cabe
mais. Nesse caso, estamos diante do preconceito baseado na ignorância.
Só conseguiremos
diminuir o lixo cultural se melhorarmos nosso conhecimento, pela educação,
assim vamos ter como comparar um outro produto cultural com o altamente
consumido, e, quem sabe, escolher o novo ou o que tem qualidade.”
Quanto
à qualidade, saindo da visão social de um membro da classe média que não
concordar que existe manifestação cultural da realidade dos moradores de uma
favela, quanto estes produzem o funk ou Hip Hop.
Quanto
à qualidade do que era produzido e que foi tachado como lixo, referenciou o que
a casa foi até 1 de janeiro de 2015.
Então, nadamos, nadamos e morremos na praia?
Não.
Infelizmente a maioria das pessoas não nada, mas já nasce morta. No nosso caso,
não morremos, temos uma nova praia para ser curtida com toda nossa diversidade
cultural. Uma praia onde uma revista pode ser um documento e memoria, que uma escultura de Dona Raimunda faltando um braço continua sendo um obra de arte de valor.
Francisco das Chagas e Silva
Francisco das Chagas e Silva
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