segunda-feira, 24 de março de 2014

Federação Portuguesa de Teatro escreveu uma nova nota: Mensagem Dia Mundial do Teatro 2014.



II 27 em Cena - Sistema Municipal de Cultura Já!
de Brett Bailey
Onde quer que exista a sociedade humana, o seu Espírito irrepressível de Representação manifesta-se.
Nas pequenas aldeias e em palcos ultra modernos nas grandes metrópoles. Nos espaços de recreio nas escolas, nos campos e em templos; em bairros de lata, em praças nas grandes cidades e nos centros comunitários as pessoas congregam-se para comungar os mundos efémeros do teatro que criamos para exprimir a nossa complexidade humana, a nossa diversidade, a nossa vulnerabilidade, em “carne viva”, em respiração e em voz.
Juntamo-nos para chorar e para relembrar; para rir e para contemplar; para aprender, afirmar e imaginar. Para nos maravilharmos com a destreza técnica e para encarnar os deuses. Para suster o nosso sopro vital perante a nossa capacidade para a beleza, a compaixão, a monstruosidade. Vimos para obter a energia e o poder. Para celebrar a riqueza das nossas culturas tão diferentes, e para dissolver as fronteiras que nos dividem.
Onde quer que exista a sociedade humana, o seu Espírito irrepressível de Representação manifesta-se. Nascido da comunidade, transporta as máscaras e os costumes das nossas diferentes tradições. Explora as nossas linguagens, os ritmos e os gestos e abre um espaço entre nós.
E nós, os artistas que trabalhamos com este espírito ancestral, sentimo-nos compelidos para o canalizar através dos nossos corações, das nossas ideias e dos nossos corpos para poder revelar as nossas realidades em toda a sua mundanidade e mistério.
Mas, nesta era em que tantos milhões lutam desesperadamente por sobreviver, sofrem sob regimes opressores e capitalismos predatórios, e fogem de conflitos e de provações; em que a nossa privacidade é invadida por serviços secretos e que as nossas palavras são censuradas por governos intrusivos e sem escrúpulos; em que florestas inteiras são aniquiladas, espécies exterminadas e oceanos são envenenados: o que é que é necessário revelar?
Neste mundo de poder desigual em que várias ordens hegemónicas tentam convencer-nos que uma nação, uma raça, um género, uma preferência sexual, uma religião, uma ideologia, uma estrutura cultural é superior a todas as outras, será que podemos afirmar categoricamente que as artes devem estar separadas da agenda social?
Estaremos nós, os artistas das arenas e dos palcos, conformados com as exigências do mercado, ou deveremos usar o poder que temos para abrir um espaço de reflexão no coração e na mente das sociedades, para unir as pessoas em torno de nós, para inspirá-las, encantá-las e informa-las, criando um mundo de esperança e de solidariedade sincera?
(Tradução de Fernando Rodrigues)
Notas sobre o autor:                                                    
Brett Bailey é um dramaturgo Sul Africano, director artístico do “Third World Bunfight”. Fez trabalhos na África do Sul, no Zimbabué, Uganda, Haiti, República Democrática do Congo e na Grã-Bretanha.
“Big Dada”, “Ipi Zombi?”, “Mumbo Jumbo” são algumas das suas obras dramáticas mais emblemáticas que interrogam as dinâmicas do mundo pós-colonial.
As suas peças e performances já foram apresentadas um pouco por toda a Europa, na Austrália e em África tendo conquistado vários prémios.

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