de Brett Bailey
Onde quer que exista a sociedade humana, o seu
Espírito irrepressível de Representação manifesta-se.
Nas pequenas aldeias e em palcos ultra modernos nas
grandes metrópoles. Nos espaços de recreio nas escolas, nos campos e em
templos; em bairros de lata, em praças nas grandes cidades e nos centros
comunitários as pessoas congregam-se para comungar os mundos efémeros do teatro
que criamos para exprimir a nossa complexidade humana, a nossa diversidade, a
nossa vulnerabilidade, em “carne viva”, em respiração e em voz.
Juntamo-nos para chorar e para relembrar; para rir
e para contemplar; para aprender, afirmar e imaginar. Para nos maravilharmos
com a destreza técnica e para encarnar os deuses. Para suster o nosso sopro
vital perante a nossa capacidade para a beleza, a compaixão, a monstruosidade.
Vimos para obter a energia e o poder. Para celebrar a riqueza das nossas
culturas tão diferentes, e para dissolver as fronteiras que nos dividem.
Onde quer que exista a sociedade humana, o seu Espírito
irrepressível de Representação manifesta-se. Nascido da comunidade, transporta
as máscaras e os costumes das nossas diferentes tradições. Explora as nossas
linguagens, os ritmos e os gestos e abre um espaço entre nós.
E nós, os artistas que trabalhamos com este
espírito ancestral, sentimo-nos compelidos para o canalizar através dos nossos
corações, das nossas ideias e dos nossos corpos para poder revelar as nossas
realidades em toda a sua mundanidade e mistério.
Mas, nesta era em que tantos milhões lutam
desesperadamente por sobreviver, sofrem sob regimes opressores e capitalismos
predatórios, e fogem de conflitos e de provações; em que a nossa privacidade é
invadida por serviços secretos e que as nossas palavras são censuradas por
governos intrusivos e sem escrúpulos; em que florestas inteiras são
aniquiladas, espécies exterminadas e oceanos são envenenados: o que é que é
necessário revelar?
Neste mundo de poder desigual em que várias ordens
hegemónicas tentam convencer-nos que uma nação, uma raça, um género, uma
preferência sexual, uma religião, uma ideologia, uma estrutura cultural é
superior a todas as outras, será que podemos afirmar categoricamente que as
artes devem estar separadas da agenda social?
Estaremos nós, os artistas das arenas e dos palcos,
conformados com as exigências do mercado, ou deveremos usar o poder que temos
para abrir um espaço de reflexão no coração e na mente das sociedades, para
unir as pessoas em torno de nós, para inspirá-las, encantá-las e informa-las,
criando um mundo de esperança e de solidariedade sincera?
(Tradução de Fernando Rodrigues)
Notas sobre o autor:
Brett Bailey é um dramaturgo Sul Africano, director
artístico do “Third World Bunfight”. Fez trabalhos na África do Sul, no
Zimbabué, Uganda, Haiti, República Democrática do Congo e na Grã-Bretanha.
“Big Dada”, “Ipi Zombi?”, “Mumbo Jumbo” são algumas
das suas obras dramáticas mais emblemáticas que interrogam as dinâmicas do
mundo pós-colonial.
As suas peças e performances já foram apresentadas
um pouco por toda a Europa, na Austrália e em África tendo conquistado vários
prémios.
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