quinta-feira, 24 de março de 2016

P's O ESPETÁCULO


Entre muitas coisas admiráveis no espetáculo P's, a sua própria composição é quem destaca-se,  Alexandre Munis na sua melhor interpretação de uma peonagem bem construída com muito trabalho. Pierre Rivière nós apresenta Alexandre num rigor explícito na condução da trama, uma sobriedade na interpretação, que de longe  desouve as formas teatrais obvias do teatro seridoense.
O Caráter Independente do projeto conduzido pela direção de Lourival Andrade proporciona novos caminhos para o teatro em Caicó. Proporciona a plateia um espetáculo provocante, empaquetante e vibrante. 
Baseado no livro do filósofo francês Michel Foucault sobre as relações entre psiquiatria e justiça penal, o espetáculo P's (“Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão” ), produzido pela Companhia Trapiá, conta a história de Pierre Rivière, um jovem camponês francês, nascido em Courvaudon e morador de Aunay, que foi notícia nos jornais de 1835, causando repulsa e julgamento da opinião pública. O espetáculo P's dirigido por Lourival Andrade é um monologo com um ator Alexandre Muniz em cena, num cenário sertanejo de Custodio Jacinto, pintado com a luz de Adriano Nunes e com uma trilha sonora de Aglailson França que conduz qualquer um a uma comunidade rural da Região do Seridó, onde o espetáculo é maravilhosamente ambientado.
O espetáculo nós provoca a pensar como os sujeitos se constituem e se tornam o que são, os mecanismos que tendem a fazer do homem um objeto, ou seja, se referem aos processos disciplinares da família, da escola, das igrejas, das instituições que tendem a tornar o homem dócil politicamente e útil economicamente. Questionam os processos que em nossa sociedade fazem do homem um sujeito preso a uma identidade que lhe é atribuída a partir dos poderes coercitivos da sociedade.
O violento crime choca, trazendo à tona o que pensamos, sobre nós mesmo, o significado dos conceitos do que somos enquanto indivíduo. Quando dizemos que os mecanismos de objetivação e subjetivação da sociedade produzem o indivíduo moderno, pode-se afirmar diante de um espetáculo vigoroso que o termo sujeito serve para designar o indivíduo preso a uma identidade que reconhece enquanto sua, “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão”.
É nesse sentido, que P's nós leva a pensar o Sujeito, pensar os processos de objetivação e subjetivação que antecedem à constituição do Sujeito. Não poderia ser diferente já que estamos no universo de Foucault. “

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