A discussão a
respeito das idéias e da influência de Brecht sobre o teatro brasileiro tem
marcado presença nos meios artísticos e intelectuais brasileiros por muitas
décadas.
A obra do poeta e dramaturgo já era mais ou menos conhecida no Brasil desde sua morte, em 1956.
A obra do poeta e dramaturgo já era mais ou menos conhecida no Brasil desde sua morte, em 1956.
A influência
das idéias e da estética do dramaturgo é patente em autores, diretores e demais
artistas de teatro, em instituições e entidades culturais e políticas como
Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, e nos CPCs da UNE (Centros Populares de
Cultura da União Nacional dos Estudantes). Textos e montagens como Revolução na
América do Sul, Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes, de Augusto Boal,
criador do Sistema Curinga, inspirado no distanciamento brechtiano, e todo o
desenvolvimento posterior de sua teoria teatral são realizações que devem muito
ao Pequeno Organon (1948) e ao Teatro de Brecht.
Também nesse
quadro insere-se o Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa, na montagem do
Rei da vela, de Oswald de Andrade, e nas elogiadas Galilei Galileu e Na selva
das cidades, do próprio Brecht, e mesmo no polêmico Roda viva, de Chico
Buarque, dirigido por ele. Ainda Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco
Guarnieri (que, apesar de usar black tie na forma dramática, não deixou de
fazer um macacão épico, contrariando Iná Camargo da Costa), Francisco de Assis,
Aderbal Freire Filho, O Grupo Opinião e seus shows (no Rio de Janeiro), Fauzi
Arap, Dias Gomes e (por que não?) Millôr Fernandes, no momento em que concebeu
o espetáculo Liberdade, liberdade junto com Flávio Rangel.
O momento
político-estético mais sensível da recepção de Brecht no Brasil, as
experiências e os artistas mencionados, que aconteceram/atuaram principalmente
dos anos 1950 até o final dos anos 1960, podem ter deixado de lado o apuro na
aplicação dos postulados teóricos e técnicos criados por Brecht, mas convém não
esquecer que, no enfrentamento político-cultural daquelas décadas, em especial
nos primeiros momentos da ditadura militar (1964-1968), importava mais o que se
fazia do que como se fazia.
Do ponto de
vista do movimento editorial, a recepção e a crítica à obra de Brecht foi e
continua sendo boa no Brasil. A partir de críticos, pesquisadores e ensaístas
como Anatol Rosenfeld, Sábato Magaldi, Ingrid Koudela, Gerd Bornheim, Jaco
Guinsburg, Antonio Pasta Jr., Fernando Peixoto (tradutor também do Teatro
completo de Brecht - 12 vols.) e mais recentemente Sérgio de Carvalho e Márcio
Marciano, além de tradutores como Manuel Bandeira (O círculo de giz
caucasiano), Christine Röhrig (O declínio do egoísta Johann Fatzer), Paulo
Cesar Souza e Geir Campos (Poemas e canções) e Maria Silvia Betti (O método
Brecht, de Frederic Jameson), temos acesso a muitas obras do autor e sobre sua
vida, assim como ao estudo e à crítica de seus postulados estéticos e teatrais.
[...] Para ser breve,
trata-se aqui de uma técnica que permite dar aos processos a serem
representados o poder de colocar homens em conflito com outros homens,
proporcionar o andamento de fatos insólitos, de fatos que necessitam de uma
explicação, que não são evidentes, que não são simplesmente naturais. O
objectivo deste efeito é fornecer ao espectador a possibilidade de exercer uma
crítica fecunda, colocando-se do lado de fora da cena para que adquira um ponto
de vista social. [...]
Para Brecht é importante que o ator saiba que, no palco,
ele é apenas um artista que está interpretando um personagem, ou seja, um
intérprete que mostra o personagem, mas não o vive, que tenta interpretá-lo da
melhor maneira possível, mas que não tenta persuadir-se (tampouco os outros) de
que é o próprio personagem. Dessa forma, o ator em cena não é Otelo, nem
Hamlet, nem Lear e sim um artista que os representa da melhor maneira possível,
que dá ao público a chance e o direito de tomar
partido, de criticar, de conceber um idealismo sobre os personagens de maneira
própria.
Arthur chegou ao Rio de Janeiro em 1873, com 18 anos.
Dividia sua atividade profissional entre o teatro, o jornalismo e um cargo
público no Ministério da Agricultura, onde conheceu Machado, seu grande amigo e
crítico implacável. Em suas primeiras incursões pelo teatro, Arthur procurou
escrever teatro “sério” e corresponder assim aos anseios da elite intelectual
de então. Mas frustrou todas as suas expectativas, pois tais peças não
agradavam ao público. Passou então a levar à cena suas primeiras comédias. Com
elas, Arthur Azevedo conquistou o reconhecimento popular e conheceu o sucesso. Para
os companheiros de ofício, entretanto, nosso autor sentia a necessidade de
justificar sua opção estética como se ela fosse uma espécie de pecado: “Todas
as vezes que tentei fazer teatro sério, em paga só recebi censuras, ao passo
que enveredando pela “bambochata” não me faltaram nunca elogios, festas,
aplausos e... proventos. Perdoem-me por citar essa última fórmula de glória, mas...
que diabo... ela é essencial para um pai de família que vive de sua pena!...”
A leitura das peças de Arthur Azevedo mostra que elas
superam os episódios circunstanciais que lhes deram origem. São atualíssimas e
até hoje fazem a delícia do grande público. A crítica especializada o considera
uma das mais importantes personalidades do teatro brasileiro, tanto por sua
obra como por sua vida.
O projeto
nacional “SESC Dramaturgia - Leituras em Cena” abre inscrições para a 2ª etapa
no Rio Grande do Norte. A oficineira Samira Sinara trabalhará o encontro
estético entre Bertold Brecht e Arthur Azevedo. A proposta é dialogar sobre o encontro
entre os autores clássicos da Europa e do Brasil. Uma oportunidade única pra
quem estuda teatro para construção de conhecimento atravéis de dois grandes
autores.
Para se inscrever, os
interessados devem preencher a ficha disponível no site (http://bit.ly/R8rTiI), e enviá-la para o email edvaniofs@hotmail.com ou para efsantos@rn.com.br. O período
de inscrições vai até o dia 25/10 para
Caicó.
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